A Indignação é Sagrada: Por que o Yoga Não Pode Defender a Injustiça.
Um chamado ao viveka — o discernimento que revela por que o yoga deve se posicionar pela anistia dos inocentes do 8 de janeiro e contra toda forma de injustiça travestida de ordem.
Este artigo é uma reflexão profunda sobre a diferença entre raiva e indignação dentro do caminho do yoga — e sobre como viveka, o discernimento, revela que a verdadeira espiritualidade nunca pode legitimar injustiças. A partir de experiências pessoais e ensinamentos clássicos de Patanjali, Buda e Krishna, o texto mostra que a indignação justa não é descontrole emocional, mas um chamado ético que nasce do dharma.
Diante das perseguições políticas, da prisão de inocentes, do avanço de um narcoestado e da distorção narrativa que transformou cidadãos comuns em inimigos, o artigo questiona a postura de instrutores de yoga que condenam a anistia dos inocentes do 8 de janeiro e reproduzem visões equivocadas travestidas de “paz”.
Com firmeza, argumenta que silêncio não é neutralidade — é cumplicidade. E que o yoga, quando fiel às suas raízes, exige lucidez, coragem e posicionamento. Assim, conclui defendendo a anistia dos inocentes, o retorno ao dharma e a prática de um yoga que enxerga a realidade com clareza e age em favor da justiça.
Essa semana, na minha aula de filosofia do yoga, o tema foi dveṣa — a raiva. A abordagem era rígida: raiva é ruim, ponto final. Um veneno a ser extirpado. Eu não consegui ficar calada...esse tema me angustia muito, porque estou no caminho do yoga há mais de 25 anos e ainda me vejo tomada por algo que, até pouco tempo, eu chamava de raiva.
- Como posso não sentir raiva com tanta injustiça acontecendo no país? Com tantos inocentes presos e tantos bandidos soltos cometendo mais e mais crimes?
Seguimos na aula, o tema era complexo e está sendo continuado...
Então, desabafando sobre o assunto em minha clínica, uma aluna que é linguista me disse algo que trouxe muito alívio dentro de mim:
- O que você sente não é raiva — é indignação. São coisas diferentes, ela me explicou.
E, ao ouvir isso, senti-me acolhida. Profundamente acolhida. Isso, somado a um vídeo do TED que uma colega do grupo de estudos, uma pessoa maravilhosa e sensível ao meu sofrimento, compartilhou, chamado — “How to Make Peace? Get Angry!” — me fez enxergar meu próprio sentimento com mais leveza.
O palestrante explica que a indignação, quando canalizada, não destrói: transforma. Não é o oposto da paz, mas o caminho para uma paz verdadeira, aquela que brota quando a justiça é restaurada. Foi ali que pensei: talvez aquilo que eu sinto não seja um erro espiritual, e sim a prova de que meus valores continuam íntegros — um eco direto de viveka, o discernimento que permite ver a injustiça com clareza.
Levo comigo um mantra pessoal:
“Mais suave que a flor quando se trata de bondade; mais forte que o trovão quando os princípios estão em jogo.”
No tapete, pratico suavidade. Na vida pessoal, tudo flui: tenho o suficiente, trabalho com o que amo, trato todos com gentileza, naturalmente, pois sou muito grata pela minha vida.
Mas fora do tapete, olhando para o Brasil real, para as injustiças escancaradas desde 2018, meu oásis pessoal se abala e sou tomada por muita, mas muita indignação — e não por capricho, mas por princípio.
E o que MAIS me revolta? A hipocrisia de instrutores de yoga que se recusam a enxergar a realidade.
Gente que cria inimigos imaginários enquanto os inimigos do povo estão agindo em plena luz do dia.
Instrutores que defendem narrativas delirantes e espiritualmente vazias, desconectadas do sofrimento concreto das pessoas — um claro fracasso de viveka, incapacidade de distinguir aparência de realidade.
E aí me pergunto: o que leva alguém do yoga a cometer tamanha distorção? Não acredito que seja maldade — não no sentido cruel. Talvez seja ignorância mesmo, falta de estudo profundo, uma compreensão superficial dos princípios. Talvez seja ego, medo de desagradar um grupo, apego a uma identidade política que virou quase uma obrigação em alguns meios (artísticos, yóguicos, acadêmicos). Talvez seja carência de pertencimento, e então se agarram a um “lado” como se fosse uma sangha. Mas, seja qual for o motivo, é triste ver pessoas que deveriam buscar lucidez se perdendo em conveniências, ilusões ou bandeiras que nada têm a ver com o yoga — exatamente o oposto de viveka. Se deixando levar completamente por um plano absolutamente exposto.
Estamos vivendo num país onde:
• Inocentes são presos por anos SEM PROVAS E SEM JULGAMENTO;
• Operações policiais contra traficantes geram “indignação institucional”, como se enfrentar criminosos armados fosse um problema;
• O Estado protege traficantes, enquanto cidadãos comuns são perseguidos por opiniões nas redes sociais;
• E tudo isso acontece porque, sim, vivemos num narcoestado — um sistema que se diz democrático, mas que opera com a lógica e os interesses do crime organizado.
E, por incrível que pareça, tem professor de yoga aplaudindo isso.
Professor dizendo que “anistia é perigosa”!!!!!
Perigosa para quem? Para o sistema corrupto que depende de prisões arbitrárias para se sustentar?
Quando um instrutor de yoga defende um sistema que:
• protege criminosos enquanto persegue cidadãos comuns;
• condena inocentes sem julgamento;
• transforma traficantes em vítimas e cidadãos de bem, trabalhadores e honestos em ameaças;
• fortalece a lógica de um narcoestado cada vez mais consolidado;
… esse instrutor não está ensinando yoga. Está apenas reproduzindo covardia travestida de espiritualidade. Uma espiritualidade que escolhe a conveniência em vez da verdade, o conforto em vez do dharma — porque sem viveka, qualquer discurso parece virtuoso, qualquer omissão parece paz.
O yoga nunca foi omissão.
Patanjali fala de tapas — fogo interno, disciplina ardente.
Buda enfrentou sistemas opressores.
Krishna orientou Arjuna a agir — não por ódio, mas por dever ético.
E há um princípio absolutamente essencial aqui: viveka, a clareza que separa o que liberta do que aprisiona, o que é dharma do que é adharma, o real do ilusório.
A indignação justa não é krodha cego — é viveka em ação, a lucidez que recusa aceitar injustiças como normais e não confunde silêncio com espiritualidade.
É fogo que purifica. É o trovão que desperta.
Eu escolho esse trovão.
Escolho a indignação que não destrói pessoas, mas confronta estruturas INJUSTAS E MENTIROSAS, POIS ESTÃO A SERVIÇO DOS CRIMINOSOS QUE ESTÃO NO PODER.
Escolho o acolhimento daqueles que sofrem com firmeza inabalável diante da opressão.
São milhares de pessoas, MILHARES! Em seis anos de perseguição injusta, implacável, ilegal, cruel que tem como único objetivo calar vozes dissonantes, para que os criminosos se perpetuem no poder.
Convido você, praticante, professor, aluno: olhe para o Brasil real.
Veja as mães presas sem julgamento.
Veja os jovens silenciados.
Veja o narcoestado infiltrado nas instituições, mídia, escolas, faculdades.
Veja políticos inocentes da oposição presos sem NENHUM RESPALDO LEGAL.
Veja a Constituição Federal jogada no LIXO!
E pergunte: de que lado está o seu yoga?
A verdadeira paz não nasce da omissão,
E MUITO MENOS DE ESCOLHER O LADO ERRADO!!!!
Nasce da coragem de se indignar — e agir.
Nasce de viveka, a visão que não se deixa enganar.
Nos meus momentos de esforço em direção ao meu dharma consigo nutrir compaixão por estes seres perdidos, iludidos, que se permitem serem enganados desta forma....porque o Karma, ah, o Karma!
Anistia já. Justiça já. Indignação lúcida — e viveka — sempre.