Os Vários PATAÑJALIs: Controvérsias sobre a História do YOGA-SŪTRA e seu Autor

Publicado em
Os Vários PATAÑJALIs: Controvérsias sobre a História do YOGA-SŪTRA e seu Autor

PATAÑJALI COMO UM SER SOBRENATURAL O YOGA-SŪTRA não contém nenhuma informação direta sobre seu autor nem sobre a época em que foi escrito. O mais antigo comentário que conhecemos sobre a obra de PATAÑ-JALI – o BHĀṢYA de VYĀSA – começa da seguinte forma: Possa o resplandecente Senhor das Serpentes [AHĪŚA], aquele que tem muitos capuzes, nos proteger – ele, que concede o YOGA e que é ele próprio unido em YOGA, ele que tem um corpo branco puro, que se delicia com um corpo de serpente, que é a fonte de toda sabedoria, aquele cujos limites chegaram ao fim e que possui um veneno mortal, ele que, tendo renunciado à sua forma original, nasceu neste mundo para beneficiar as pessoas sob muitas formas. (Jha, 1907, p. 22; Woods, 1914, p. 3; Feuerstein, 1998, p. 272) Embora este comentário não cite aqui nominalmente PATAÑJALI, considera-se que essa prece inicial é dedicada a ele.

 

De fato, muitas estatuetas indianas mostram PATAÑJALI com uma forma metade humana e metade serpente, e existe um hino a PATAÑJALI que também o descreve dessa forma. Vemos, assim, que quando o comentário atribuído a VYĀSA foi escrito, PATAÑJALI já havia se transformado em um ser mítico. Na tradição indiana PATAÑJALI é considerado uma encarnação de ĀDIŚEṢA – a serpente primordial. ŚEṢA é o nome de uma serpente mitológica com mil cabeças, considerada como um símbolo da eternidade. É também chamada de ANANTA, “a infinita”, sendo representada muitas vezes como o leito sobre o qual VIṢṆU dorme nos intervalos entre as criações do universo (Zimmer, 2003, p. 210).

 

Na iconografia, Ananta é representado muitas vezes como a almofada sobre a qual se reclina o deus Vishnu. As muitas cabeças do senhor das serpentes simbolizam a infinitude ou a onipresença. Não é difícil descobrir qual a ligação que Ananta tem com o Yoga uma vez que este é por excelência o tesouro oculto, isto é, o conhecimento esotérico. Até hoje muitos yogins prostram-se perante Ananta antes de começar a rotina diária de exercícios yogues. (Feuerstein, 1998, p. 272) Feuerstein relata um mito segundo o qual o rei das serpentes ANANTA queria ensinar o YOGA na Terra e caiu (PAT, em sânscrito) do céu sobre as mãos postas (AÑJALI) de uma mulher muito virtuosa chamada Gonika, adquirindo por esse motivo o nome de PATAÑJALI (Feuerstein, 1998, p. 272).

 

Por outro lado, segundo Parmeshwaranand, os eruditos indianos apresentam a opinião de que ele tem esse nome como uma indicação de que as pessoas deveriam realizar adoração (AÑJALI) aos seus pés (PADA), pois acreditam que PATAÑJALI era a encarnação de ĀDIŚEṢA (Parmeshwaranand, 2001, p. 1015). O mesmo autor relata o mito de Gonika associando-o ao nascimento do gramático chamado PATAÑJALI: Em seu livro Patañjalicarita, Ramabhadradiksita escreveu sobre o nascimento de Patañjali: “Certa vez Gonika, filha de um sábio, orou ao Deus-Sol para ter um filho. Então Ananta, o rei das serpentes, caiu sobre as palmas das suas mãos na forma de um sábio. A ascética jovem cuidou do sábio como seu filho”.

 

Depois de alguns anos o sábio foi até Cidambara e orou a Shiva para abençoá-lo com bastante conhecimento e sabedoria para escrever um comentário do Vyakaranavarttika de Katyayana (regras explicativas sobre os Sutras de Panini). Shiva o abençoou, e o sábio escreveu o comentário. (Parmeshwaranand, 2001, p. 1015).

 

Desde as descrições míticas, alguns consideram PATAÑ-JALI, o gramático – um célebre comentarista do AṢṬADHYĀYĪ escrito por PĀṆINI – como sendo a mesma pessoa que compôs o YOGA-SŪTRA. Mas essa identificação é questionada por muitos autores, como veremos. Para ler o texto completo acesse o seguinte link: https://tinyurl.com/y33u9mvm

 

Instrutor: Flavia Bianchini

 

 

 

Comentários